O que revelam os dados sobre alfabetização nas escolas públicas brasileiras

A descoberta da escrita pode ser uma experiência instigadora, mágica e lúdica. Fato que muitos de nós, professores, testemunhamos na escola, em nossas casas e nas diversas relações sociais quando as crianças estão aprendendo a ler e redescobrem o mundo.

Crédito: Shutterstock

A realidade da alfabetização, porém, é cheia de obstáculos para muitas escolas públicas brasileiras. Os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), publicados em 2015, mostraram que 22,21% das crianças no 3º ano do Ensino Fundamental só desenvolveram a capacidade de ler palavras isoladas. Em escrita, 34,46% desses alunos não têm aprendizagem considerada adequada.

De modo geral, há uma inquietação entre os professores do 3º ano de que os colegas dos anos anteriores aprovam os estudantes sem que eles tenham aprendido o esperado. Os docentes de 1º e 2º anos, por sua vez, parecem ter uma compreensão equivocada da progressão continuadae a exercem como se fosse aprovação automática: as crianças progridem no ciclo, mas não aprendem. Assim, os três anos iniciais que compõem o ciclo de alfabetização e que deveriam favorecer a introdução, o aprofundamento e a consolidação das aprendizagens dos estudantes, segundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), não parecem cumprir essas tarefas.

O fenômeno da defasagem idade/série é abordado de forma sensível pelos estudos de Giana Yamin e Roseli Mello (disponível para download aqui). Diogo, 12 anos, cursava pela quarta vez a 2ª série do Ensino Fundamental, oito de seus colegas eram repetentes e a metade da classe não lia convencionalmente. Nas narrativas que se seguem Diogo e Fábio, 10 anos, refletem sobre o sentido das práticas docentes:

– Ela só escreve e não ensina. Ela lê, e não ajuda a gente ler.
– A professora passa matéria no quadro. A gente copia. Ela passa coisa no quadro, a gente copia e, aí, ela passa coisa no quadro (…). Quando ela chega, passa mais matéria.
– Só sei ler essa palavra aí. Essa outra não.

Pelos diálogos, fica evidente que os estudantes enxergam as lacunas de sua aprendizagem, sentem-se desconfortáveis e sofrem nessas experiências pedagógicas.

Recentemente, me emocionei com o relato de um projeto da professora Ilca Cafezeiro Almeida, da EM Tenente Almir, no Seminário Regional do Programa Nossa Rede, em Salvador. Ela orquestra uma sala do 3º ano em que nem todas as crianças estão alfabetizadas. Mas, envolvidas pela curiosidade em um estudo sobre os animais marinhos, as crianças se encorajaram e encontraram outro motivo para investir na leitura e na escrita: desbravar outros universos.

Afinal, quem se responsabiliza pelos estudantes que não estão progredindo no ciclo inicial da alfabetização? Nós, professores, a partir de ações colaborativas, somos encarregados por essa construção. Como a sua escola está enfrentando essas dificuldades? É possível realizar outras estratégias didáticas nas quais ler e escrever tenham sentido para as crianças? Entre na roda e compartilhe conosco a sua opinião e suas experiências como educador!

Um abraço,
Neury

 

Fonte: nova escola

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